Quem é o principal culpado dos acidentes que acontecem no Brasil?
De acordo com o relatório do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) sobre a primeira década de ações pela segurança no trânsito no Brasil e perspectivas para a segunda década, as questões comportamentais são consideradas um dos principais fatores de sinistros de trânsito.
Entre essas questões, a falta de manutenção dos veículos é uma das principais causas de mortes apontadas no relatório.
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Falta de manutenção dos veículos é uma das principais causas de mortes no trânsito no Brasil, aponta relatório do IPEA
No entanto, o Brasil não alcançou as metas previstas na 1ª Década de Ação pela Segurança no Trânsito, estabelecida durante a Assembleia-Geral da ONU em 2010.
O relatório apresenta dados desanimadores para um país que se comprometeu em tomar medidas para diminuir a violência no trânsito. Entre os resultados dos primeiros 10 anos, as questões comportamentais aparecem como um dos quatro principais fatores de acidentes de trânsito no período de 2010 a 2019.
- Falta de atenção (motoristas e pedestres) – (36,6%);
- Desobediência às regras (14,4%);
- Excesso de velocidade (9,8%) ;
- Uso de álcool e drogas (5%).
Somando todos, 65,8% dos acidentes acontecem por causas exclusivamente pelo comportamento do condutor.
Falhas nos automóveis são a quinta maior causa de óbitos, aponta estudo!
De acordo com o estudo, a quinta maior causa de óbitos está relacionada às falhas nos automóveis (4,5%). Daniel Bassoli, diretor executivo da Federação Nacional da Inspeção Veicular (FENIVE), argumenta que essa estatística também deve ser vista como um comportamento inadequado, já que a responsabilidade de manter o veículo em condições adequadas é do proprietário.
“Os defeitos mecânicos dos veículos só são constatados após as tragédias, quando é necessário fazer uma perícia, diferentemente das outras causas, que são passíveis de serem constatadas em uma fiscalização”, ressalta.
Ele afirma que, se houvesse uma investigação mais eficiente de acidentes de trânsito no Brasil, que realmente identificasse as falhas mecânicas responsáveis por esses acidentes, o índice de acidentes seria ainda maior, especialmente considerando a idade média dos veículos no país, que é de 10,9 anos, de acordo com informações do Sindipeças.
Ele sugere que uma solução para esse problema seria a implementação da inspeção veicular periódica, que já está prevista no Código de Trânsito Brasileiro há 25 anos, mas ainda não foi implementada.
Inspeção veicular e renovação de frota
Os técnicos do IPEA responsáveis pelo relatório afirmam que a cultura de manutenção precária da frota é um comportamento inadequado que contribui para acidentes.
Eles sugerem que a inspeção veicular, juntamente com políticas públicas de renovação da frota, pode melhorar tanto a segurança no trânsito quanto a economia circular do automóvel.
Além disso, essa medida pode trazer benefícios socioeconômicos e ambientais, além de gerar mais receita fiscal, já que veículos mais novos geram mais impostos.
“É um trabalho de longo prazo e resultados tímidos. É preciso investir na educação básica e em campanhas focadas na redução de sinistros”, enfatiza e acrescenta que, no entanto, é preciso realizar estudos que apontem as maiores causas destes comportamentos inadequados e a forma de atacá-los. “Atualmente, as políticas efetivas de prevenção a sinistros são encaradas por parte da sociedade como ‘restrição de liberdade’ e outros conceitos nocivos à segurança do trânsito”, avalia.
Avanços na segurança dos veículos ainda são limitados, alerta especialista!
De acordo com o especialista, houve alguns avanços na segurança dos veículos comparado à década passada, mas ainda são limitados.
Ele destaca que o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) tem exigido novas tecnologias, como airbags, ABS e outros acessórios, o que traz benefícios na proteção dos passageiros.
No entanto, se essas tecnologias não forem devidamente mantidas, elas podem não funcionar corretamente em momentos críticos, aumentando os riscos de acidentes. Além disso, ele destaca que o Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões no Trânsito – PNATRANS é uma iniciativa que visa reduzir a mortalidade no trânsito através de várias ações.
No entanto, apesar de ter sido prometido há cinco anos, as ações concretas ainda são insuficientes. Muitos atores, tanto públicos quanto privados, reconhecem a necessidade de agir contra o problema, mas falta uma coordenação nacional para que isso aconteça.
Brasil fica em quinto lugar em lista de países com mais mortes por acidentes de trânsito em 2010
Em 2010, o Brasil ficou em quinto lugar na lista dos países com mais óbitos por acidentes de trânsito em todo o mundo. Houve um aumento de 13,5% no número total de mortes em comparação com o período anterior, de 2000 a 2009, frustrando a meta estabelecida de reduzir em 50% o número total de mortes.
Apesar disso, a taxa de mortalidade, ou seja, a quantidade de mortes por 100 mil habitantes, apresentou um leve aumento de 2,3% devido à variação da população.
Uma das principais mudanças verificadas a partir de 2010 está no perfil das vítimas de trânsito. Houve um grande aumento das mortes de usuários de motocicleta, redução de atropelamentos e pouca variação nas mortes de usuários de automóveis.
Aumento de mortes causadas por acidentes com motos preocupa especialistas no Brasil
O uso da moto como meio de transporte tem causado um aumento considerável no número de vítimas fatais nos últimos anos. Entre 2010 e 2019, as mortes relacionadas a acidentes com motocicletas representaram 30% do total, enquanto na década anterior, de 2000 a 2009, esse número era de 17%.
Por outro lado, houve uma redução no número de mortes por atropelamento, caindo de 28% para 19%. Segundo um especialista do IPEA, se nada for feito, essa tendência pode piorar, já que esses acidentes não apenas causam mortes, mas também deixam muitas pessoas incapacitadas temporariamente ou permanentemente.
Bassoli conclui ressaltando que há uma regulação federal para melhorar a segurança das motocicletas, que inclui exigências tanto para o motociclista quanto para o veículo. Contudo, essa regulamentação ainda não foi implementada pelos estados e municípios, o que torna a situação ainda mais preocupante.
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